segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os primórdios da Antropologia Clássica


Durante o séc. XIX houve um relevante desenvolvimento científico, produto da elaboração dos métodos de investigação, dos séculos XVI ao XVIII.
Decorreu daí o desenvolvimento, nas ciências da natureza (como a química, primordialmente), de métodos para datação de materiais orgânicos, dentre eles, restos esqueletais, o que possibilitava determinar a antiguidade do próprio ser humano. O desenvolvimento desses métodos e técnicas para datação resultou em um enorme esforço para determinar a antiguidade dos inúmeros restos humanos que se encontravam guardados em museus, universidades e centros.
de pesquisa, produto de descobertas arqueológicas por vezes muito anteriores a esse século XIX. Este esforço resultou no desenvolvimento de uma nova ciência, dedicada exatamente a esses estudos e que passava a assumir como objetivo a determinação não só da antiguidade do Homem; mas dos processos de evolução biológica e social de nossos antepassados: a Antropologia. A primeira cisão entre estudos de ordem física e de ordem cultural, dentro da Antropologia, se deu exatamente neste momento. Isso porque antropólogos já se definiam como aqueles que estudavam sociedades distintas das europeias, como grupamentos humanos autóctones ou sociedades primitivas, por exemplo; e um novo grupo de cientistas surgia, autodenominando-se também como antropólogos, mas voltados à investigação sobre aspectos rácicos, biológicos e evolutivos do Homem. É importante salientar que se não houve acordo quanto ao emprego do termo antropólogo, tampouco houve em relação ao termo Antropologia. Apesar de nossa conceituação ter bem clara, as distinções entre Antropologia Física e Antropologia Social e Cultural, filiados a uma interpretação vigente nos Estados Unidos e na Inglaterra; a escola francesa utiliza o termo Antropologia para se referir ao que conhecemos como Antropologia Física, enquanto não utiliza o termo Antropologia Social e Cultural, substituindo-o por etnologia; ao contrário do que fazem os autores anglo-saxões. Essa notável imprecisão terminológica se explica pelo fato de a Antropologia ter progredido em círculos científicos e países muito distintos, resultando em um relativo grau de autonomia entre as correntes que desde distintos pontos de vista enveredaram por este complexo campo de estudos.



Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Rodrigo Medina Zagni
Revisão Textual:
Profª. Dra. Patrícia Silvestre Leite Di Iório

Questões de Antropologia Clássica


                A Antropologia possui um objeto extremamente complexo e denso, e que pode ser estudado desde os mais distintos pontos de vista: o Homem e suas obras; sendo assim, como ciência, pode-se dizer que seus limites sejam pouco definidos.
                Ocorre que dizer que a Antropologia é a "ciência do homem" não basta. Se assim fosse, confundiríamos facilmente a Antropologia com a Medicina, a Psicologia, a Biologia, a Sociologia, a Economia, e tantas outras áreas de conhecimento que focam o Homem a partir de um determinado âmbito de sua existência, individual ou coletiva. Portanto, dizer que se trata da ciência cujo objeto é o Homem não ajuda a definir este campo de estudos.
                Se recorrermos ao histórico de conformação dessa área, verificaremos que com a especialização progressiva das ciências humanas, datada do séc. XIX, a Antropologia se apropriava de questões que acabavam não sendo consideradas por essas disciplinas.
            Dentre esses aspectos relegados pelas demais áreas de conhecimento, destacam-se aqueles que levariam à cisão entre uma Antropologia Física e uma Antropologia Cultural (ambas definidas na unidade anterior); respectivamente:

·                    o estudo das raças humanas e suas características biológicas;
·                    o estudo do homem do ponto de vista social e cultural.

            Sobre esta segunda dimensão da Antropologia, na qual se insere a dimensão social do existir humano, ou seja, sua organização em grupos e as dinâmicas de convívio social que desenvolvem, poder-se-ia dizer que, aqui, este objeto de interesse se confunde gravemente com o da Sociologia, ciência cujo objeto são as interações interindivíduos conformando grupos sociais e como esses grupos interagem entre si. Ocorre que a Sociologia se ocupa do estudo de sociedades que possamos dizer modernas, isso porque nelas se verificam um alto grau de alfabetização, são densas demograficamente (podendo nelas se verificar o fenômeno do anonimato) e geograficamente extensas. Já a Antropologia estuda sociedades mais simples, ágrafas e conformadas por poucos membros, estabelecendo laços sociais muito mais estreitos. Contudo, essa regra se aplica exatamente àquilo que podemos caracterizar como Antropologia Clássica, ou seja, sua configuração conforme seu período formativo; isso porque, hoje, subáreas como a Antropologia Urbana, a Antropologia do Cotidiano e a Etnografia Urbana se ocupam exatamente de tipos de sociedade complexas, agravando a distinção (por conta de sua abordagem e métodos) com relação aos enfoques dados pela Sociologia